No final de 2021 escrevi um texto que  procura refletir a produção cultural na jornada profissional dos contadores de histórias. Por meio de um edital de bolsa de pesquisa da Lei Aldir Blanc MG, foi possível sistematizar as pesquisas que venho realizando ao longo dos últimos anos e produzir entrevistas com 25 artistas da palavra de diversas regiões do Brasil. Trago um pouco da minha experiência de quinze anos como narradora e de dez anos à frente do Instituto Cultural Abrapalavra, onde tenho sido idealizadora e diretora geral de projetos como Candeia: Mostra Internacional de Narração Artística, BH ao pé do ouvido, Era uma Voz: ciclo de reflexões sobre narração artística e outras linguagens, Contos de Lá nos Cantos de Cá, além de entre outras vivências, formações, criações, participação em festivais e de maneira muito particular uma relação profícua com narradores de histórias, movimentos, grupos do Brasil e alguns do exterior, sempre conversando e refletindo as possibilidades e os desafios para uma caminhada mais sustentável na arte da palavra oral.

Pensar a sustentabilidade do trabalho dos contadores de histórias contemporâneos é algo que me atravessa há muito tempo e este estudo é um primeiro recorte feito a partir de um compartilhamento de experiências minhas e de diversos outros profissionais. O convite é para que façamos aqui uma roda de conversa em que cada fala pode nos trazer novas formas de referência, um desejo de lutar junto por algo, um pensamento que traz outros, a vontade de fazer uma pergunta (e que talvez não seja respondida aqui), uma dúvida, uma discordância, e por aí vamos noite ou dia adentro.

A primeira vez que eu me perguntei como faria para que o meu trabalho como narradora fosse sustentável foi em 2008 quando fui participar de um festival no interior de São Paulo, na cidade de Votorantim, organizado pelo contador José Bocca. Na época, eu ainda trabalhava como professora universitária no período noturno e pedi autorização para mudar de horária com outro professor. Diante da negativa do pedido, resolvi mesmo assim ir ao festival e também ir à faculdade dar minhas aulas. O que eu fiz foi dar aula na quarta-feira até às 22h30, pegar o ônibus para a cidade às 23h30. Cheguei lá pela manhã de quinta, participei de todas as atividades, fiz nossa apresentação à noite no teatro. Na sexta pela manhã eu fui de ônibus para São Paulo, lá peguei um avião para BH, dei aula normalmente até às 22h30 e peguei novamente o ônibus da noite para continuar aproveitando o festival.

Ainda me lembro de como este movimento foi importante para que eu pudesse direcionar os caminhos, uma vez que estava ficando cada vez mais difícil conciliar as viagens e desejos por uma vida dedicada à narração e o trabalho CLT. Decisão tomada e 3 meses após esta via sacra, estava debruçada na janela de madeira da casinha em que eu morava em Santa Tereza, pensando como seria dali pra frente. Nesta época eu já trabalhava com o músico Chicó do Céu que se tornou o meu grande parceiro nessa caminhada e com quem até hoje divido tudo isso que vou contando aqui. Na janela mesmo, peguei um caderno e fiz um desenho com três palavras que se uniam: criação – financiamentos – público.

Neste texto trago um pouco mais do que aconteceu depois e ainda dialogo com outros narradores do Brasil que também seguiram o caminho da palavra oral como destino. 

Clique aqui, conheça mais e você também pode preencher um formulário para me contar um pouco sobre sua percepção sobre produção cultural na narração de histórias: https://linktr.ee/narracaoartistica

 

Autora: Aline Cântia é narradora de histórias, jornalista, Mestre em Estudos Literários e Doutora em Educação. Desde 2011 é presidente do Instituto Cultural AbraPalavra.

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